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RITA OLIVEIRA DISSE: "CANSEI DE OUVIR QUE GRAVIDEZ NÃO É DOENÇA".

Muitas vezes quando você anuncia que esta gravida é a primeira coisa que escuta até de pessoas queridas, infelizmente.

Essa frase "advertência" é mais que um lembrete ou "conselho". No meu entendimento é um chamado para ordem estabelecida pelo machismo ao longo das décadas, pode-se dizer que faz parte do processo de destituição do protagonismo feminino no ato de gerar uma vida e coloca-la no mundo – vale como lembrete a intervenção do Estado nas ações das parteiras no século passado, até criminalizando essas praticas em nome da assepsia e modernidade, ou ainda a introdução catastrófica em alguns países do leite industrializado visando substituir a amamentação materna. Evidentemente sem entrar no tema do parto-cesariana e dos pseudos partos normais.

 “Gravidez não é doença” me remete a uma ideia de que essa fase da vida não deve ser encarada como nada especial, que nós devemos continuar a produzir materialmente na sociedade e não estarmos atentas as mudanças que uma gestação nos remete e provoca. Esse comando faz parte de um processo violento, de expropriação, de silenciamento e de coerção ao qual as mulheres são expostas.

Os cuidados que a sociedade parece permitir nessa fase não vão para além da estética. Em alguns casos somos tratadas como chocadeiras, como meras reprodutoras, nesse balaio acontece inversões terríveis, ouvimos que uma cadelinha esta gravida e que uma mulher esta prenha, que uma égua deu a luz e que uma mulher deu cria.  

“Gravidez não é doença” é uma observação, um comando que pode ser acompanhado, portanto, de ações que desumanizam a gestante, ou seja, para além do que foi citado acima, ao não entender que a mulher nessa fase da vida precisa de cuidados, que não pode consumir todos os tipos de produtos presentes na sociedade,  que fica vulnerável,  que sai do seu papel socialmente construído – aquela que cuida – e que deveria, sobretudo, também ser cuidada nessa fase, a sociedade lança as mulheres numa experiência solitária e violenta em um momento que deveria estar amparada para gerar novos indivíduos saudáveis físico e emocionalmente e permanecer saudável também.

Por isso “gravidez não é doença” é doença sim, mas não das gestantes e sim de uma sociedade insensível, desumana, perversa, machista que tenta retirar violentamente de nós mulheres tudo, a humanidade, a cidadania, o protagonismo, a dignidade, etc.

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