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LORENA FARIA DISSE: "CANSEI DE OUVIR MEUS AVÓS ME DIZENDO PARA ESCOVAR OS CABELOS".

Desde pequena, vivi a "ditadura do liso": aos sete anos, passei pelo primeiro processo químico de relaxamento, coisa que fiz por mais vinte anos desde então. Só depois de ter meus cabelos totalmente quebrados por um procedimento mal realizado, finalmente cansei!! Nesse processo, duas amigas foram fundamentais: uma negra que estava passando pelo processo de transição e uma ruiva que sempre achou o cabelo black o poder!

No entanto, não foi assim tão fácil assumir minhas madeixas crespas. As críticas vieram principalmente da minha família, em especial minha avó... Sempre que eu chegava à casa dela, ouvia a frase: "Por que você não faz uma escova nesse cabelo?" Doeu mais ainda quando, um dia antes da minha defesa de mestrado, em que fiz um corte diferente para valorizar o volume, ouvi alguém dizer: "Mas você não acha que ficou muito alto?"

Enfim, parar de "agredir um cabelo" afro não é fácil. De qualquer forma, hoje, entendendo melhor a questão do empoderamento, percebi que não se trata apenas de assumir os cachos ou alisá-los, desde que a mulher seja empoderada e o alisamento não represente uma rejeição de sua identidade. Outros cansaços, para além de uma questão pessoal, me inquietam ainda mais e residem no trabalho que desenvolvo diariamente com a educação: Cansei de ver pouquíssimos negros nos bancos das escolas federais! Cansei de ver a desvalorização da cultura popular negra pelo poder público! Cansei de ver estudantes negros e negras sofrendo racismo velado nas escolas!

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