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ANGELA PERES DISSE: "CANSEI DE SER OLHADA COMO SE EU ESTIVESSE À VENDA".
Desde que comecei a ter preocupações estéticas na adolescência para querer parecer bonita enfrento um grande dilema. Até onde posso sentir-me bem com a minha aparência sem reforçar os estereótipos relacionados ao corpo da mulher negra? Por anos não entendi o que estava acontecendo e quando fui morar no Rio de Janeiro, deparar-me com um outro modo de racismo me fez entender o que sempre vivi. Cada vez que um "gringo" me abordava para um "elogio" era como se eu levasse um soco no estômago. Ocorre que cada vez que um homem me elogia "Como você é bonita", dependendo do tom e do olhar que acompanha é possível perceber: sim, é um elogio; ou não, ele está sendo racista e imaginando o quanto de prazer eu - como uma "mulata" - posso lhe dar na cama. Não sei se uma branca passa por isso todos os dias como eu, mas sei que o estereótipo da mulata me faz viver situações de violência revestidas de elogio todos os dias. A verdade é que na maioria das vezes eles não precisam nem abrir a boca, só o modo como me olham eu já sei o que está acontecendo, sei que aquele é um olhar racista do senhor de engenho que se acha dono da mucama. Ocorre que minha liberdade não veio com a Lei Áurea. Ela veio quando eu consegui entender o que acontece a minha volta. Não vão me comprar com elogios, nem com nada que o dinheiro branco pode me dar. Eles falam que sou arrogante, por que será? Sou livre! Isso sim. Cansei!